Mais uma vez a Historiadora Raquel Varela mete a foice em seara alheia e acha que descobriu a pólvora em relação às máscaras. Vejamos o que se escreve:

Raquel Varela

O maior estudo sobre máscaras na comunidade foi agora publicado. É da Universidade de Copenhaga na Dinamarca. Sustenta que não há evidência que a utilização de máscaras na rua reduza o contágio. Foi publicado em alguns media internacionais. Deixo aqui o estudo e a notícia. Quero deixar sobre isto uma pequena nota: esta época será conhecida para a ciência como uma espécie de interlúdio no Iluminismo, na ciência baseada na evidência. Politicamente os governos na sua maioria serão abalados, e, creio, não resistirão.

Não se pode parar uma pandemia como esta (há 800 mil a 1 milhão de assintomáticos só em Portugal pensa-se) - o que se pode fazer é ter cuidados de saúde e comunitários fortes mas isso, com os métodos de trabalho actuais e com a erosão do Estado Social do período neoliberal, é impossível. Assim, foram-nos oferecidas, como se de ciência se tratasse, medidas que fazem menos do que chá e mezinhas da avó: o confinamento é inútil, as medidas anti democráticas não evitam nada, as máscaras na rua não impedem o contágio. O resultado foi porém pior que mezinhas, foi uma intoxicação de um produto cujos milagres estão à vista - perda dos valores democráticos, aumento significativo actual e previsível da mortalidade de adultos por falta de cuidados médicos, uma pandemia de depressões, e o esgarçar dos laços de solidariedade e confiança na base dos quais as sociedades ultrapassam os seus problemas.

Há um mês o mesmo jornal que hoje publica o estudo dizia que uso de máscaras na rua "podia evitar metade dos mortos por COVID". Há um mês não havia, porém, e reconhecido pela OMS e a DGS, nenhum estudo que provasse tal afirmação catastrófica, pelo contrário, já havia dois estudos que o desmentiam - no entanto o mote estava dado: o pânico, o alerta e o medo não podem parar porque na ausência de cuidados de saúde robustos e apoio a idosos sobra pouca mais do que medo. Agora há um estudo amplo, e da Universidade de Copenhaga, com dezenas de cientistas e milhares de testes e trabalho empírico, que diz o contrário - usem ou não máscaras na rua é estatisticamente irrelevante. Como o pensamento mágico é dominante em tempos pós-modernos vamos continuar a ter as crianças com máscara no jardim; ir para casa compulsoriamente às 11 da noite; e a assistir a recomendações cujos efeitos não evitam doentes de COVID, e adoecem o resto da sociedade.

A medida das máscaras é na verdade análoga, dizia-me hoje alguém, a um Governo que decide prender todos os cidadãos que não têm registo criminal para os proteger.

Não esperem nos tempos próximos que estes estudos tenham efeito nas medidas. Porque as medidas em vigor neste momento pretendem salvar governos, e portanto as evidências da ciência vão sendo colocados por baixo do tapete da destruição do Estado Social.

O link para o estudo    https://www.acpjournals.org/doi/10.7326/M20-6817

Que comentário fazer?? Que responder?

Escreve muito bem sobre o estado social e económico dos nosso País e sobre as medidas disparatadas que têm sido tomadas pelos governos (não só o nosso, como sabemos). Porém, quando mete a foice em seara alheia “estende-se ao comprido” e é uma pena pois até sabe escrever e tem boas opiniões.

Tenho três pontos a realçar:

1º - Referindo-me ao seu post precedente, de 24-Nov.

Qual a necessidade de atacar e chamar de “negacionistas” aos médicos pela verdade, a outros grupos “pela verdade” e aos que, não estando nesses grupos mas contestando as medidas tomadas (entre os quais me encontro), põem em causa a obrigatoriedade das máscaras, se vem agora com um estudo científico, que diz que ser o maior, que sugere que as máscaras cirúrgicas não têm qualquer efeito no contágio, na rua??? Especificamente na rua??? Porque só quem fez esse estudo científico tem um cérebro dentro do crânio?

Porque razão não basta conhecer o funcionamento das máscaras em si próprias? É necessário uma prova adicional em como esse funcionamento é ineficaz?? Desde que as máscaras existem que se sabe como elas funcionam e quais as limitações do seu uso.

2º - Diz respeito ao “estudo científico” propriamente dito 

Este estudo não traz nada de novo. É necessário saber ler um estudo científico e os autores, desde o início “salvam a pele” com o pequeno parágrafo em que escrevem:

“Limitations: Inconclusive results, missing data, variable adherence, patient-reported findings on home tests, no blinding, and no assessment of whether masks could decrease disease transmission from mask wearers to others.”

Estas limitações retiram a utilidade de tal estudo pois à partida ficamos como estávamos antes. Chega à conclusão que "usem ou não máscaras na rua é estatisticamente irrelevante";  já o sabíamos e por isso muitos contestam o seu uso, aqueles a quem chamou de "negacionistas". Um estudo a sério, não empírico (porque empírico pressupõe baseado nas experiências vividas e não nas observadas cientificamente) teria que ter “material e métodos” diferentes, como populações aleatórias, um estudo cego, randomizado e o cálculo das probabilidades pelo teorema de Bayes. Um estudo deste género é quase impossível, inerente às características do próprio estudo que depende da aderência das pessoas que constituem as duas populações e que são uma variável incontrolável.

A CDC apresentou ultimamente, 12-11-2020, algumas considerações sobre as máscaras 

mas como todos os outros, acaba por referir

“CDC is still studying the effectiveness of different types of masks and will update our recommendations as new scientific evidence becomes available”

Ninguém pode obrigar alguém a usar uma máscara, salvo as excepções bem conhecidas referentes a todos os que trabalham na saúde ou são cuidadores de grupos de risco pois não há bases científicas que provem a sua eficácia e mesmo neste contexto são usadas para evitar que as pequenas projecções de saliva de quem as usa consigam chegar ao paciente.

Portanto, as conclusões sobre o uso das máscaras, nesta data, são “nem sim nem não, antes pelo contrário”, e é esta a razão pela qual nunca me pronunciei sobre o seu uso ou não uso nas minhas publicações, simplesmente porque não tenho bases científicas nas quais me apoiar para defender a minha opinião seja em que sentido for.

3º Nem me pronuncio sobre o “Iluminismo” em ciência de que fala, mas gostaria de saber onde se baseia para escrever que “há 800 mil a 1 milhão de assintomáticos só em Portugal pensa-se”.

Quem pensa? Um iluminado? E se alguém realmente “pensou” tem a certeza de que se referia a assintomáticos (que pressupõe existência de doença sem sintomas) ou referia-se ao número de pessoas que já contactaram com o vírus mas sem manifestações de doença devido a uma possível imunidade de grupo? É que são situações muito diferentes, para não dizer diametralmente opostas e não podem ser metidas no mesmo saco.

Data: 
26 Nov, 2020
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