Com as faces enrugadas, continuam a transmitir o seu saber carregado de uma experiência que só os anos podem proporcionar.
Ei-los hoje, aqueles cuja saúde priviligiou, passeiam pelos parques, encontram-se com amigos recordando tempos idos, jogam os jogos que a idade permite, bebem um copo ou uma taça de chá. Ao domingo, felizes, reunem-se com a família no almoço de fim de semana. Falam com os netos, transmitem-lhes as suas longas experiências. Estes são os idosos felizes.
Outros, menos priviligiados, com dificuldades de mobilização ou outras, encontram-se em instituições que os apoiam e os ajudam.
Alguns, vítimas de envelhecimento cerebral são mais dependentes, menos conscientes da sua situação, tendo co-morbilidades que os obrigam a sobrecarregar os seus cuidadores.
Todos eles são Grandes Seres Humanos: são os nossos Bisavós, os nossos Avós, mesmo os nossos Pais.
Todos eles precisam de algo para poderem suportar o peso de uma vida, o desgaste irremediável dos seus corpos frágeis e debilitados: precisam de amor, precisam da presença de um ente querido que os acarinhe.
São estes os que mais sofrem neste momento.
Para os "proteger" de um vírus, entre tantos, que provoca pneumonias graves, isolaram-se os idosos. Não discuto aqui se foi bom ou mau... teve que ser.
Projecta-se que não poderão passar o Natal com os seus familiares. Este Natal, talvez o derradeiro Natal das suas vidas em fim de percurso.
O idoso não tem os mesmos critérios de valor que os adultos jovens têm. O idoso vive o momento presente, consciente de que o amanhã pode não existir. Com o avançar da idade há uma certa desvinculação do mundo exterior, tornando os laços com os seus familiares muito mais intensos. O idoso só quer Amor, Carinho e o Calor da sua família. Ele deu tudo por ela! Só pede amor em troca!
Quando falta o amor, quando um idoso se sente isolado ele deprime. É uma depressão silenciosa, ele não se queixa, muitas vezes nem chora, cala-se. Dificilmente um antidepressivo fará regredir esta depressão. O idoso desliga o interruptor da vida, deixa-se adormecer lentamente e morre.
Desde Março que se isolaram os idosos para os proteger. Teve que ser. Ficaram privados de ver os seus queridos familiares, de conviver com os seus amigos. Na Páscoa não estiveram com a família, agora, no Natal, também não. Nove meses, tempo de uma gestação, o tempo para os idosos sucumbirem ao isolamento e falta de amor.
Ah! Claro! O teste foi positivo, morreu de COVID, dizem.