Desde o início da pandemia morreram e morrem mais portugueses por falta de assistência médica do que por Covid.
O que escrevo é inspirado no magnífico texto do médico anestesiologista, Dr. Pedro Girão.
Perante um problema, a principal preocupação de muitos políticos é escondê-lo dos olhos do público. Neste momento já são cerca de 8.000, comparados com a média dos 11 anos precedentes e depois de descontados os óbitos COVID. Isso pode ser feito criando um outro assunto que prenda a atenção do público (a "estratégia da distracção de Noam Chomsky") pode ser feito dando respostas vagas que adiem o problema, pode ser feito controlando os media e desinformando, ou pode ser feito através da mentira pura e simples.
Nesta pandemia, muita coisa pode ser dita acerca do vírus, da sua transmissão, do seu controle, das possíveis soluções, das hipóteses de cura, etc. É o campo da Ciência - e neste último ano os cientistas parecem firmemente decididos a descredibilizarem a Ciência, publicando desmentidos à mesma velocidade com que publicam certezas.
Venho chamar de novo a atenção para um outro ponto. Perante a incapacidade do SNS para enfrentar um problema da dimensão da Covid, o Governo mentiu e mente, afirmando que tem investido no SNS. Não é verdade, nunca o fez. Então, sem muito tempo para arrepiar caminho, sem coragem para assumir os erros, levado pelas circunstâncias, tomou uma opção: perante uns milhares de pessoas afectadas pelo vírus (ao fim de 9 meses, são 2,6 % dos portugueses), decidiu sacrificar os restantes 97,4%, e nomeadamente sacrificar o seu direito à saúde. E vai continuar a fazê-lo.
O drama do colapso dos hospitais, ou o drama dos cuidados intensivos, apesar de sempre term existido, são os mais recentes dramas a juntar a todos os dramas que os media nos têm servido nos últimos meses, dia a dia, hora a hora, dramas que ajudam a desviar o foco do essencial. E o essencial é o entendimento da real dimensão do problema, o essencial são os milhões de portugueses abandonados à sua sorte, com cada vez menos meios de subsistência, cada vez mais enfrentando um SNS que não os atende, privados do acesso aos cuidados de saúde básicos.
São notórios os esforços do Governo, com a cumplicidade escandalosa do Presidente da República, para esconder aos olhos de todos e varrer para debaixo do tapete esse desagradável pormenor:
Desde o início da pandemia, morreram e morrem mais portugueses por falta de assistência médica do que por Covid.
Não tenhamos dúvidas:
Para os nossos governantes (e não só para eles, lamentavelmente), a morte de milhares de portugueses é apenas isso - lixo, para esconder debaixo do tapete. E eu não compreendo como tantos dos meus compatriotas permanecem indiferentes a esse crime que se perpetra diariamente no nosso país.