Ivermectina

A Ivermectina é uma das drogas antiparasitárias melhor conhecidas em medicina humana e veterinária. Desde a sua descoberta fortuita até ao prémio Nobel, a Ivermectina tem tido um impacto extraordinário na saúde humana e animal. É uma das drogas mais importantes no controlo das parasitoses humanas e dos animais e foi o assunto do prémio Nobel da Medicina/Fisiologia em 2015, atribuído a Satoshi Ōmura e William Campbell, uns 35 anos após a terem descoberto.

Em 1970 o microbiologista Satoshi Ōmura colhia amostras de terra nas matas próximas de um campo de golfe em Kawana. Ao analisá-las isolou bactérias gram-positivas pouco habituais da espécie Streptomyces (amostra NRRL 8165–a) que enviou para William Campbell dos Laboratórios Merck. Estavam em estudo os efeitos antiparasitários de certas bactérias. Essa amostra mostrou potentes efeitos anti parasitários contra Nematospiroides dubius do rato (conhecido hoje como Heligomosoides polygyrus). Os componentes activos foram purificados revelando uma família de lactonas macrocíclicas. Estes componentes, que apareciam espontaneamente, foram denominados avermectinas e a bactéria que os sintetizava Streptomyces avermitilis. A Ivermectina é um derivado modificado dessas avermectinas produzidas naturalmente e que tem uma forte actividade contra muitos parasitas internos como os nemátodos mas também externos como piolhos e ácaros (especialmente sarna). Tem sido fundamental no tratamento da oncocercose ou "cegueira dos rios" provocada por Onchocerca volvulus e na filaríase linfática. Uma única dose de 0,15 mg/Kg de peso dada anualmente suprime a produção das microfilárias e impede a progressão da doença. Desde 1987 o Mectizan Donation Program aprovou mais de 1,2 biliões de tratamentos para controlo e eliminação da oncocercose.

O exacto mecanismo de acção da Ivermectina sobre os parasitas continua em estudo e muitos aspectos estão por esclarecer. Porém tem uma grande margem de segurança e os raros efeitos tóxicos descritos em seres humanos são devidos a doses 30 vezes superiores à dose recomendada pela FDA (0,2 mg/Kg de peso). 

Em doses nanomoleculares é um potente anti helmíntico com uma grande margem de segurança mas mais recentemente descobriu-se que consegue matar as células leucémicas sem lesar as células sanguíneas normais. Isto é devido a uma particularidade dos canais de cloro das células malignas e a Ivermectina actua sobre esses canais de cloro. Os estudos continuam e existem dados muito promissores nos cancros do cólon, pele, pulmão, mama, ovário, e próstata. Esta eficácia tem sido demonstrada in vivo, o que é muito importante.

A investigação sobre a Ivermectina tem sido intensa e até foi encontrado in vitro um potente efeito antimicótico.

Não admira, portanto, que tenha sido estudada sobre o SARS-COV-2 pois é um dos medicamentos sujeitos a maior investigação actualmente, desde o cancro à tuberculose, passando por vírus RNA e DNA. Os estudos começaram com o SARS-COV-1 e MERS mas como estes surtos desapareceram rapidamente a investigação foi interrompida.

Uma questão que se põe, sempre que um medicamento é administrado em massa, é o problema de ser ou não teratogénico, isto é provocar malformações fetais. Os programas de tratamento e prevenção da oncocercose mostraram que a administração de Ivermectina não provocou um aumento da frequência das anomalias fetais (Ivernectina e gravidez; Ausência de efeitos adversos...). Assim, em nada foram alterados os protocolos para tratamento e prevenção da oncocercose.

As doses usadas no tratamento e prevenção da Covid-19 são as recomendadas pela FDA, 0,2 mg/Kg de peso.

Em prevenção aconselha-se esta dose no 1º e 3º dias seguida de 1 cp de 15 em 15 dias. 

Em caso de infeção pelo SARS-COV-2 aconselha-se 0,2 mg/Kg de peso duas vezes ao dia logo no início dos sintomas, a repetir durante uns 3 dias ajustando posteriormente a dose consoante a evolução. Não há estudos suficientes para avaliar a sua eficácia quando o tratamento é iniciado numa fase já muito avançada da doença.

A Ivermectina tem que ser manipulada nas farmácias e a prescrição deve conter o peso do paciente:

Paciente:   Nome...

Peso:   ... Kg

FSA (faça-se segunto a arte)       Ivermectina: 0,2 mg/Kg de peso

O médico faz esta precrição no seu papel timbrado e deve colocar a sua vinheta.

Obviamente que para um médico prescrever um medicamento deve conhecer previamente a história clínica do paciente e quais os medicamentos que este toma. As interações medicamentosas não são muitas mas se o paciente estiver a tomar antiagregantes plaquetares ou anticoagulantes, deve ser vigiado e as doses destes medicamentos alteradas se necessário pois existe a possibilidade da potencialização do efeito dos anticoagulantes.

Referências

Data: 
15 Ago, 2021
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